INCENTIVAR OS HISTORIADORES A ESTUDAR O “VERÃO QUENTE” DE 75 EM FAMALICÃO

Exposição fotográfica do fotojornalista António Pereira de Sousa, no Museu Bernardino Machado, foi vista por mais de 200 pessoas nos três primeiros dias

Casa da Memória Viva propõe criação de bolsa de investigação à Câmara Municipal

A direção da Casa da Memória Viva (CMV) propôs à Câmara Municipal a criação de uma bolsa de estudo, no âmbito da investigação em História Contemporânea, que “contribua para estabilizar uma narrativa histórica credível e com valor científico” sobre os acontecimentos do “Verão Quente” de 1975 em Vila Nova de Famalicão.

Será uma forma de “honrar a memória daqueles que então saíram à rua movidos pelas suas convicções, num tempo de aprendizagem democrática para todos, e de se fazer pedagogia cívica a favor das novas gerações”, justifica o presidente daquela associação famalicense, que tem na defesa e valorização da memória identitária da Famalicão um dos seus principais eixos de atuação.

A proposta foi feita publicamente na última sexta-feira, 4 de abril, aquando da inauguração da exposição fotográfica “Agosto de 1975 - Famalicão no Mapa da Revolução”, do fotojornalista António Pereira de Sousa, no Museu Bernardino Machado, e mereceu o acolhimento do presidente do Executivo municipal, ali presente. “Aceitamos o repto e iremos, em diálogo, afinar o modelo adequado que nos permita lançar esta bolsa de estudo”, afirmou Mário Passos.

Pouco antes, o presidente da direção da CMV, Carlos de Sousa, tinha salientado a importância da criação de uma bolsa de investigação com estas características e objetivos, a atribuir por concurso público a um historiador ligado a uma instituição de ensino superior portuguesa. Deverá ter a “duração máxima de três anos”, concretizou, e obrigar o bolseiro escolhido a “publicar o trabalho resultante da investigação, sob a forma de tese de doutoramento ou de comunicação a um congresso científico, até cinco anos depois” de atribuída a bolsa.

Com a iniciativa, pretende-se “caracterizar o contexto sociopolítico local, identificar as motivações dos agentes sociais e políticos que estiveram no terreno e estabilizar a narrativa histórica quanto ao desenrolar dos acontecimentos que marcaram o ‘Verão Quente’ em Vila Nova de Famalicão, no princípio de agosto de 1975”, acrescentou o dirigente associativo.

Para tanto, salientou, há que “ultrapassar leituras pessoais e bloqueios de natureza política e chamar a Academia a validar e credibilizar o trabalho dos historiadores. Cinquenta anos depois, e enquanto é possível aceder ao testemunho de protagonistas dos factos, é tempo de a História e os historiadores fazerem o seu trabalho”.

 Exposição é “bom contributo” para que a História se faça

O presidente da Câmara Municipal, por seu lado, reconheceu na exposição de António Pereira de Sousa, com que abriram as comemorações municipais do 51.º aniversário do 25 de Abril, um “bom contributo” para que se faça a História do “Verão Quente” em Famalicão.

“Este acervo fotográfico que foi doado à Casa da Memória Viva vai ficar em Famalicão e eu estou-lhe grato por isso”, disse Mário Passos, dirigindo-se ao fotojornalista, que na primeira semana de agosto de 1975 esteve na então Vila de Famalicão em reportagem para o jornal “A Capital” e a agência noticiosa Associated Press. A seu lado, o edil tinha o presidente da Assembleia Municipal, João Nascimento, e os vereadores da Cultura, Pedro Oliveira, e da Educação, Augusto Lima.

Antes, o presidente da Câmara Municipal fez uma vista guiada pelas 50 fotografias, todas elas em formato de 50x70 cm e a preto e branco, da exposição “Agosto de 1975 - Famalicão no Mapa da Revolução”, e visionou um vídeo realizado por Afonso Pereira de Sousa, neto do fotojornalista e estudante de Cinema na Escola das Artes da Universidade Católica, a partir do espólio de dezenas de milhares de fotografias do avô.

Após o ato inaugural, Fernando Zamith, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto com raízes familiares em Famalicão, fez uma palestra sobre “Fotojornalismo e Memória Histórica”.

Entretanto, a exposição está a suscitar bastante interesse junto dos famalicenses e foi vista por mais de duas centenas de pessoas nos três primeiros dias de funcionamento.

Continuará aberta ao público até 4 de maio, no Museu Bernardino Machado, constituindo a primeiras das três iniciativas com que a CMV está a evocar, ao longo do mês, os 50 anos dos acontecimentos vividos em Famalicão no Verão Quente de 1975. No próximo dia 26, realizará a Conferência “Famalicão Cidade Aberta”, no auditório da Fundação Cupertino de Miranda, e acaba de editar uma serigrafia alusiva à efeméride, da autoria do artista plástico e cenógrafo Acácio de Carvalho.

A obra de arte pode ser adquirida nos próximos sábados de manhã, entre as 10 e as 12,30 horas, na sede da associação, na Rua de São João de Deus, n.º 116 - 2.º sala 3 (edifício da loja dos CTT), e no dia 26 na receção da conferência, em que serão oradores, entre outros, os professores universitários famalicenses João Cerejeira, Carlos Maurício Barbosa e Helena Freitas; o subsecretário-geral das Nações Unidas e diretor executivo da UNOPS, Jorge Moreira da Silva; o premiado publicitário José Carlos Bomtempo, diretor criativo da sucursal portuguesa da multinacional Ogilvy; o arcebispo emérito de Braga, D. Jorge Ortiga; o empresário Carlos Couto, presidente da Construções Gabriel A. S. Couto; o pluricampeão de enduro e todo-o-terreno em motos, Paulo Marques; o “capitão de Abril”, coronel Bacelar Ferreira, presidente da Associação “Dar as Mãos”; e o músico e maestro José Eduardo Gomes.

 

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