A irmã Maria Arminda continua a ser o alvo principal das ex-noviças que têm passado pela sala de audiência do tribunal de Guimarães, no processo em que esta, o padre Joaquim Milheiros, e as irmãs Isabel e Joaquina são acusados de nove crimes de escravidão.

O dia de ontem foi todo ele preenchido com a audição de Sandra Margarida, uma jovem que ingressou na comunidade em 2005 e confessou ter sofrido várias agressões físicas, castigos e privações no Convento de Requião. Chegou a estar quinze dias proibida de beber, um castigo imposto pela irmã Arminda, em pleno verão, com temperaturas altas e em dias de longas jornadas de trabalho. Em desespero de causa pela sede chegou "a comer um limão inteiro". "Pancada", acontecia por tudo e por nada, porque eram tratadas como "propriedade" pelos responsáveis da comunidade. Exemplos deu vários, nomeadamente, a vez que levou com uma vassoura na cabeça com tal violência que o cabo se partiu, outra em que levou com uma mangueira em que os utensílios da ponta eram em ferro, e outra ainda em que levou tantas pancadas nos braços com a pá do pão que não conseguia movê-los sem dores.

Não consigo, mas com uma colega, relatou um episódio em que Arminda "até as cuecas lhe arrancou de tanto bater", porque "não se satisfazia com uma pancada só" e "tinha prazer em ver sofrer". Atribuiu as agressões e castigos à irmã Arminda, apesar de reconhecer que também testemunhou actos pontuais de violência do padre Milheiros, de Isabel e Joaquina para com as noviças.

Para além disso, passava fome, porque a comida era regrada para as raparigas. O mesmo não acontecia com os responsáveis da Fraternidade, frisa, que "comiam o que queriam e do bom e do melhor". Disse, aliás, que a irmã Arminda tinha um lache de luxo: "todos os dias lanchava mousse de chocolate com champanhe, e se o champanhe fosse fraco queixava-se que lhe estragava a mousse".