“Atitude individual é o mais importante factor de sucesso, ou de insucesso”

O Centro Hospitalar do Médio Ave (CHMA) já tem em marcha as medidas necessárias para dar resposta à segunda vaga da Covid-19. A garantia é dada em entrevista ao Povo Famalicense pelo presidente do Conselho de Administração, António Barbosa, segundo o qual eram oito os doentes infectados internados, na passada segunda-feira, um número bastante aquém da capacidade instalada, que lhe permite encarar esta nova fase da pandemia com alguma confiança, não sem advertir que o sistema de saúde “não tem capacidade ilimitada. Por isso, sublinha que a cooperação institucional que tem sido essencial na resposta à crise, não pode dispensar o contributo responsável dos cidadãos. “Só é possível vencer esta crise se todos cooperarmos, modelando os nossos comportamentos individuais”, afirma acerca de uma “experiência amarga que nos responsabiliza muito perante a nossa comunidade e perante os serviços de saúde”.

 

O Povo Famalicense (PF) – A entrada na apelidada segunda vaga da pandemia de Covid-19 justifica para já alguma alteração na organização do CHMA?

António Barbosa (AB) - Sim, justifica. Em março passado reorganizamos várias áreas dos dois hospitais num contexto de drástica redução da atividade normal (não Covid). Agora tivemos de nos preparar para continuarmos a proporcionar uma resposta eficaz à Covid-19, mantendo a atividade normal nas consultas externas, nas cirurgias, nos internamentos, nos hospitais de dia, nos Serviços de Urgência. Criamos um internamento “Covid” que não afetará a normal capacidade de internamento do CHMA. A abertura da Clínica da Mulher e da Criança está a facilitar a reorganização das consultas externas em Famalicão, agora com mais consultórios disponíveis. Iniciamos há três semanas atrás atividades ao sábado, com a realização de colheitas para análise e de consultas externas nalgumas especialidades.

PF – Como é que a evolução da situação nos três concelhos em que actua está a ser acompanhada, de modo a suportar as decisões a tomar?

AB - Acompanhamos diariamente a evolução da situação em cada um dos três concelhos (Santo Tirso, Trofa e VN Famalicão) e mantemos uma articulação regular com os Cuidados de Saúde Primários e com os municípios. Integramos comissões de que fazem parte as autoridades de saúde, as estruturas da proteção civil municipais, a segurança social e outras entidades. A troca de informações e a coordenação do trabalho têm sido fundamentais para cumprirmos bem as diferentes funções de cada um.

PF – Neste momento o CHMA tem doentes internados com Covid-19?

AB - Neste momento (5 de Outubro) temos oito “doentes Covid” internados.

PF - Qual o ponto de situação relativamente à capacidade de resposta?

AB - Como em Março, estabelecemos diferentes níveis de resposta, que vamos adequando ao evoluir da situação. Em Março/Abril chegamos a ter mais de 40 “doentes covid” internados, simultaneamente, e estamos preparados para, se for necessário, ultrapassarmos esse número.

PF – O CHMA tem profissionais de saúde infectados ou em quarentena?

AB - Neste momento não temos nenhum. Apraz-nos registar que desde o início da pandemia até hoje nenhum profissional do CHMA afeto à “ADC- Área Dedicada Covid” foi infetado. Ou seja, não temos redução do número de profissionais no activo. PF - Como é que o CHMA está a conseguir ultrapassar eventuais constrangimentos surgidos pela pressão natural que está a ser exercida sobre as estruturas de saúde que dão resposta à Covid-19? AB - Como sempre, com muita dedicação dos nossos profissionais, por vezes com sacrifício pessoal. Os profissionais de saúde conhecem a importância do seu trabalho – sobretudo em contexto de pandemia –, e o seu profissionalismo tem sido decisivo para ultrapassarmos as inesperadas dificuldades com que nos vimos confrontados. E também, claro, com a ajuda de todos - Governo, autarquias, empresas, mas especialmente dos nosso cidadãos – porque só é possível vencer esta crise se todos cooperarmos, modelando os nossos comportamentos individuais.

 

PF – De acordo com o plano de contingência, que novas medidas estão previstas atendendo à evolução da pandemia? AB - Como em março, “duplicamos” os nossos Serviços de Urgência, criando em ambos “ADR’s - Áreas Dedicadas a Doentes Respiratórios” e suspeitos de Covid-19. Na Unidade de Famalicão, onde são internados os “doentes Covid”, está em construção uma ADR nova junto ao Serviço de Urgência, que esperamos poder começar a utilizar ainda este mês. E, como disse atrás, criamos um internamento “Covid” que acresce à nossa lotação normal. Estamos a reforçar a nossa capacidade de realização de testes (já fizemos cerca de 12 mil) para darmos resposta mais rápida, no interesse de todos.

PF – Que recomendações faz à população para que esta seja parte da solução e não parte de novos problemas, a somar àquele com o qual os serviços de saúde já se debatem face a uma crise de saúde pública?

AB - Já tivemos oportunidade de compreender a importância dos nossos comportamentos individuais, familiares, sociais, em contexto de pandemia. Tem sido uma experiência nova para todos nós, cidadãos - uma experiência amarga, certamente -, que nos responsabiliza muito perante a nossa comunidade e perante os serviços de saúde. Não há “risco zero”, mas todos temos consciência de que a nossa atitude individual perante a pandemia é o mais importante fator de sucesso, ou de insucesso! A principal recomendação é, portanto, a de nos protegermos adequadamente da infeção. Se o fizermos, protegemos também os outros e protegemos o sistema de saúde, que não tem capacidade ilimitada.

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