Mulher na trincheira da advocacia para defender o povo ucraniano

ENTREVISTA

Sandra Carvalho da Cruz integra a lista de cerca de 20 advogados famalicenses disponíveis para apoio jurídico gratuito

 

Mulher, famalicense, advogada, Sandra Carvalho da Cruz saltou para uma das várias trincheiras onde acontece a batalha pela defesa da liberdade do povo ucraniano, integrando a lista dos profissionais que, por todo o país, se disponibilizam para prestar auxílio legal gratuito aos cidadãos ucranianos que se encontram em Portugal, bem como aos que se venham a dirigir a Portugal em fuga da guerra.

A task-force jurídica lançada pela Ordem dos Advogados, contava já com mais de 700 inscrições, no final da passada semana, uma lista onde podem ser encontrados cerca de 20 de Vila Nova de Famalicão (https://portal.oa.pt/media/134813/conselho-regional-do-porto.pdf). As inscrições mantêm-se em aberto.

O que é que a leva a sair da sua zona de conforto é “a vontade, a necessidade, e o dever de ajudar um povo que está a ser atacado, cuja vida e liberdade estão ameaçadas”. Isso mesmo sublinha na entrevista que concedeu ao Povo Famalicense, e na qual assume que esta disponibilidade é tão-só “a forma que a advocacia portuguesa em geral encontrou para prestar auxílio ao povo ucraniano, contribuindo com os nossos ofícios”. De resto, para a advogada famalicense, o “desejo de ajudar o povo ucraniano é transversal à maioria da população mundial, é a reação do mundo aos ataques de Putin”.

De acordo com a Sandra Carvalho da Cruz, esta iniciativa de apoio gratuito aos cidadãos ucranianos prevê “todo o apoio jurídico que seja necessário para que os ucranianos possam entrar no nosso país e obter as autorização de residência enquanto refugiados”, o que implica assessoria para todo o trabalho burocrático, como sejam autorizações de saída de menores de território ucraniano, reconhecimento de assinaturas, certificação de traduções, pedidos de reagrupamento familiar, obtenção de residência junto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, “entre outros que sejam necessários para o refúgio do povo ucraniano”. Para além disso, a task-force de advogados está em condições de fornecer informação fidedigna sobre entidades às quais os cidadãos ucranianos podem recorrer para obter ajuda.

Com a “angústia” e a “apreensão” próprias de quem sabe o impacto que o confronto pode ter em toda a Europa Ocidental, a advogada entende que ser humano lhe impõe este como o único lado da trincheira onde poderia estar. “Esta é uma guerra com duas frentes de batalha, em sentidos opostos, mas com um objetivo comum: proteger uma nação. Por um lado, os homens que ficam no seu país para combater diretamente o inimigo, impedindo que este invada seu território; por outro, as mulheres que seguem rumo a países estrangeiros, em direção ao desconhecido, a fim de protegerem crianças e idosos. O povo ucraniano mostrou ao mundo o verdadeiro significado da palavra patriotismo”, refere a propósito.

Na iminência de tempos em que a guerra assume o protagonismo todo, a advogada aborda a causa da igualdade de género como “uma luta que perdurará no tempo”. Ainda que, ao longo dos anos, tenhamos assistido a um “progresso paulatino” nesta matéria, “ainda é preciso abrir caminho, combater crenças, ideologias, e conciliar o discurso com as actos de quem, aparentemente, parece defender a igualdade”. Sandra Carvalho da Cruz sublinha que “o facto de a igualdade ter passado a ser um dos objetivos a alcançar, levando os países a adoptarem medidas de combate à desigualdade, foi uma das maiores conquistas dos últimos anos”, reflectindo-se numa presença cada vez mais notória das mulheres em cargos de liderança. No entanto, considera, “as mulheres continuam reféns da sua condição”. Por isso, “enquanto for necessário criar legislação para garantir o lugar da mulher na sociedade, enquanto houverem meninas obrigadas a casar, proibidas de frequentar a escola, mulheres proibidas de votar, a luta pela igualdade continuará”.

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